quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Aprendendo a ler pensamentos

  
 INTRODUÇAO

Antes de mais nada gostaria de esclarecer que não sou psicólogo e, neste texto, usarei algumas expressões conhecidas mas que talvez não tenham o significado que normalmente lhes são atribuídos. Este texto e suas expressões são o resultado de minhas pesquisas e experiências pessoais, e meu entendimento particular decorrente delas. Tentarei, quando necessário, ser o mais claro possível ao passar as idéias, e espero que as mesmas encontrem o eco correto de acordo com os padrões de entendimento e interpretação de cada leitor.

Ao contrário do que normalmente se pensa, ler pensamentos não é algo difícil, mas justamente o contrário; é algo não apenas fácil mas virtualmente inevitável. Deepack Chopra afirma em seus livros que, embora nosso cérebro seja definido no espaço e no tempo, restrito dentro de nossa caixa craniana, nossa mente não é. Segundo ele aquilo que nós somos de fato, nossa consciência ou, como diria Gurdjief, o observador, é não-temporal e não-espacial, não limitado nem pelo espaço nem pelo tempo. Assim, a consciência está em todo lugar e em todo tempo. 

  CAPITULO 1º

Diariamente estamos imersos em um mar de ondas-pensamentos onde nossos cérebros funcionam como receptores e transmissores. Ao mesmo tempo que somos influenciados por esse mar de ondas-pensamento também somos seus criadores e mantenedores. Aldous Huxley deixa claro em "As portas da percepção" que a função essencial de nosso cérebro é filtrar a infinidade de estímulos que nos cerca, deixando passar para o nível consciente (para o observador) apenas aquilo que é importante para a sobrevivência biológico do organismo. Se assim não fosse nossa consciência estaria tão saturada com percepções que a vida, tal como a conhecemos, seria impossível.

Ao mesmo tempo em que essa filtragem é necessária e benéfica, também é nosso grande obstáculo. Castaneda fala da necessidade de transcender a realidade cotidiana para conseguir ver o mundo como ele é de fato, sem limitações, ou ao menos sem as limitações com que estamos habituados, conseqüências de nossos sentidos de percepção. Em seus livros Dom Juan, ao ensinar seu aprendiz de feiticeiro, resume todo seu ensino numa única frase: todo o treinamento consiste em desaprender o que você aprendeu. James Redfield, em A profecia celestina, faz referência a característica que possuímos de desenvolver respostas automáticas para estímulos externos, criando, ao longo dos anos, uma espécie de couraça mental onde a maioria das nossas reações são respostas automáticas. É como se funcionássemos, a maior parte do tempo, em piloto automático.

Isso ocorre porque, desde nosso nascimento, nossa consciência é progressivamente treinada para se enquadrar nos padrões presentes neste mundo e que são conhecidos como a realidade comum. Assim nos habituamos a focar nossa atenção, e consciência, em apenas alguns elementos que são, segundo Huxley, necessários a nossa sobrevivência e para manter nossa relação com o meio em que nos encontramos. O lado ruim desse treinamento é que, quanto mais nos embrenhamos na realidade comum e nos entrozamos a ela, mais limitamos nossas percepções sensoriais e nossas possibilidades de perceber o mundo. Quando Dom Juam diz que devemos desaprender ele quer dizer que devemos deixar de lado nossos padrões mentais de reconhecimento e resposta que fazem nossa ligação com o mundo exterior.

Huxley realizou diversas experiências com substâncias alucinógenas a fim de ultrapassar os limites comuns de percepção. Castaneda também, num primeiro momento, utilizou a Erva do Diabo, passando depois a adotar outros exercícios com a finalidade de quebrar o padrão de respostas automáticas citado por Redfield, tais como, a técnica no "não fazer", a espreita (ou observação atenta), o "andar do guerreiro", dentre outras. O objetivo de tais exercícios é fazer com que o sujeito mude seus padrões mentais e conseqüentemente seus padrões de percepção, saindo do piloto automático, a aprendendo a ver aquilo que sempre esteve diante de seus olhos, mas nunca foi percebido de forma consciente.

Um exemplo: você vai a uma feira de frutas e diz para seu acompanhante procurar uma fruta do conde. Andando pela feira ele irá procurar a tal fruta de barraca em barraca, focando sua atenção nisso. Chegando no final da feira, tenha ele encontrado ou não a fruta, pergunte-lhe se ele viu, por acaso, os kiwis que estavam em uma determinada barraca. Provavelmente ele dirá que não os viu. Porque? Pelo simples fato de que não os estava procurando. As imagens dos kiwis ficaram gravadas em seu subconsciente, e poderão ser acessadas por algum processo de hipnose, mas ele não lhes tomou conhecimento a nível consciente.

Da mesma forma, muitas informações que chegam a nossos sentidos de percepção, nos passam despercebidos, simplesmente porque nossa atenção não estava dirigida a elas.Da mesma forma os pensamentos das pessoas a nossa volta, próximas ou distantes, estão o tempo todo a atravessar nosso cérebro e sensibilizar nossos sentidos de percepção, só que nós nos habituamos a ignorar esses sinais, focando nossa atenção naquilo que nos é mais essencial para nosso nossa sobrevivência ou nosso prazer imediatos. O grande segredo para se ler pensamentos então, não é capta-los, pois isso é coisa não só possível como inevitável, mas sim, desenvolver a habilidade de, conscientemente, conseguir distinguir, dentre a massa de ondas-pensamentos que nos abordam todo o tempo, aquelas ondas específicas que são de nosso interesse.

Para tanto, o primeiro passo a ser dado é perceber que nós não somos os nossos pensamentos, mas estes são parte de nós. Pensamentos e consciência são coisas distintas, mesmo que se influenciem mutuamente e se entrelacem a tal ponto em que se tornem praticamente inseparáveis. Nesse sentido algum método de meditação, como o adotado por Gurdjief, praticantes budistas ou outros, que focam a importância do observar atentamente e do não-pensar, pode ser muito útil. A medida que se habitua a observar os próprios pensamentos percebe-se que eles são quase como entidades próprias, vagando por nossas mentes como folhas sopradas pelo vento. A partir do momento em que se consegue distinguir os pensamentos como elementos relativamente distintos de nós mesmos, conseguimos diferenciar melhor o que é onda-pensamento do que é a consciência (o observador) que percebe as ondas-pensamento.

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